sexta-feira, 29 de agosto de 2008

FÉRIAS




Durante as primeiras semanas de Setembro o dono deste blog vai estar de férias.
Vai estar junto às gaivotas e vogando nas ondas.
Vai estar sem computador, sem Internet, nem telemóvel.

Para todos deixo os meus desejos de tudo de bom e até breve

SE DEUS QUISER

Vitor Barros

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

XII- CHUVA QUENTE

A igreja estava apinhada de gente que derramava suor em fio, naquele dia de Julho em que o casamento se iria efectuar. Logo pela manhã um cheiro acre, mórbido de cinza queimada, deixara no ar a sensação do que iria acontecer e que iria mudar a vida da aldeia para sempre. Ao acordar, suado e pegajoso, recordou-se de imediato que tinha chegado esse dia anunciado desde há muito. Ia casar e conforme sempre soubera, esse dia iria ficar para sempre marcado na história da terra e de toda a gente que iria assistir ao triste e trágico acontecimento.
Desde sempre sabia que aquele dia iria novamente chegar. Tinha-o esperado e tinha-o receado, tinham-lho descrito, tinha-o vivido já outrora.
O sol acordou-o completamente e, logo de manhã, tornou-se tão abrasador que tudo à sua volta parecia estar a suar e a derreter. Nunca um dia de Julho acordara tão quente.
Agora que estava na igreja e que a cerimónia iria começar mais a sensação de desconforto e mistério se adensava à sua volta, tudo iria recomeçar em breve.
Para cima de quarenta e tantos graus afogavam os muitos convidados que tinham aceite estar presentes. Moviam-se inquietos e falavam com bafos de suor a escorrerem pelos engomados colarinhos.
O primeiro trovão surgiu exactamente quando o Padre, de negro vestido, saía da sacristia. Enorme, e negro o padre, acordara há breves momentos.
Negro e grande, o trovão, ribombando enorme, rolou por cima da igreja abrindo sulcos na parede testemhunha de séculos e séculos de mistérios.
Todos estremeceram e olharam para o padre que se preparava para começar a cerimónia, quando outro medonho trovão arrancou a grande e pesada porta da igreja e trouxe os primeiros pingos de chuva. Grossos, enormes, brancos como dedos de menino, precipitaram-se em tremendo aguaceiro sobre a terra que parecia ferver. O barulho ensurdecedor depressa abafou todas as vozes e as primeiras preces começaram a desenhar-se nas caras angustiadas. Pela porta derrubada da igreja podia ver-se o exterior, onde um escuro aterrador fazia lembrar um imenso inferno. Em breve começaram a passar as primeiras árvores arrancadas pela fúria da chuva. Enormes, seguiam na corrente arrastando consigo tudo. Um par de porcos, dois burros, alguns cães, galinhas, patos e coelhos não se conseguiram também segurar e seguiam na castanha e barrenta fúria da água que agora já era um autêntico ribeiro e ia engrossando de minuto a minuto.
Duas horas passadas continuava a chover cada vez com mais intensidade. Dentro da igreja o calor mantinha-se insuportável e o padre refugiara-se na sacristia onde os primeiros ratos lhe começaram a subir pelas botas acima. Adormecera e iria dormir durante os próximos quatro dias.
Durante toda a noite o céu continuou a despejar vento e chuva como nunca se tinha visto. O calor intenso continuava dentro da igreja de onde ninguém conseguia sair. Inacreditavelmente nem uma lâmpada nem um fósforo nem um bafo de luz se vislumbrava em nenhum dos presentes e mais estranhamente ainda, ninguém via nem sentia o seu vizinho por mais que apurasse a vista e o ouvido ou que com a mão tentasse encontrá-lo. Todos se tinham enterrado e refugiado dentro de si próprios. Parecia que um silêncio sepulcral tinha enterrado vivos todos os presentes na cerimónia.
De repente começaram a senti-los! Primeiro um pequeno chiar, depois um ruído imenso que saía das velhas paredes e abafava o forte aguaceiro que sem dó nem piedade tudo estava a destruir. Começaram a senti-los nas pernas, nas roupas, nas calças, na cara, na boca e nos cabelos, chiando, pegajosos e impiedosos. Tentavam sacudi-los mas a sua viscosidade e cheiro nauseabundo entrava-lhes pelas narinas e tolhia-lhes os gestos. Tentavam pisá-los mas agarravam-se aos sapatos e em breve todo o chão da igreja era uma enorme carnificina onde por cada um que conseguiam matar cinco ou seis surgiam mais fortes olhando-os no escuro. Não se via vivalma só os guinchos e o ruído das suas loucas corridas. Tentavam gritar mas não conseguiam pois as suas bocas estavam tapadas, cheias deles, os braços queriam esbracejar mas não tinham força para isso e as suas pernas pareciam anestesiadas com aquele bafo pérfido.
Na sacristia o padre continuava a dormir e as suas roupas já tinham desaparecido devoradas pelo apetite voraz de milhares de ratos. O branco nu da sua carne alvejava na negrura da noite de terror que se vivia. Indiferente dormia suando e ressonando ritmadamente.
Durante mais três dias continuou a chover como nunca ninguém imaginara que pudesse nalgum lugar da terra suceder daquela forma, até que de repente um imenso relâmpago deu luz à tarde e tudo se iluminou de novo. No adro da igreja instantaneamente milhares de flores tinham florescido como por milagre e dentro da igreja pequenos montinhos de cinza fumegavam junto dos bancos onde outrora os convidados teriam estado. Perto do altar um resto de tecido branco, com uma cruz bordada em fundo, indicava que uma noiva teria passado por ali outrora e num banco um pequeno livro de missa, de capa negra e com um pequeno crucifixo desenhado, sobrara da fúria que se abatera sobre tudo.
Foi nessa altura que o padre acordou do seu estranho sono. Viu-se nu e achou estranho tal facto mas não demasiado pois o calor era tal que pensou ter-se despido sem saber. Num canto viu um fio de água e um pequeno rato fugindo por um buraco na madeira. Pareceu-lhe anormal tal facto. Ratos eram coisa que não costumava haver na sua igreja. No adro da igreja milhares de flores brancas despertaram-lhe a curiosidade e na igreja um ligeiro odor a cinza e um negro gato esquelético de olhos endemoninhados em cima do altar fizeram-no parar e pensar… Afinal sempre tinha ratos na igreja, o gato provava-o. De repente lembrou-se que tinha um casamento para fazer mas nem noivos nem convidados lhe apareciam. Voltou-se para o altar e o gato lá continuava. A olhá-lo de pelo eriçado, mas com uns olhos humanos e os uns dentes ferozes, duas perfeitas fileiras completas. Um gato com um rosto humano só que continuava a ser um gato dentro do qual o noivo se escondera dos ratos.
Nu, pegou no crucifixo onde um Cristo de madeira parecia sangrar e apontou-o para o gato, suando em bica, exactamente no momento em que o sino tocava as doze badaladas. Só nesse momento o gato se começou a transformar. Ao correr pela igreja, perseguido pelo nu do padre e pelo crucifixo, ia aumentando de tamanho e derrubando tudo à sua saída. Quando chegou à porta o seu tamanho era o de um cão e na rua tomou uma estranha forma meio humana meio bicho desconhecido que conforme corria ia berrando, ladrando e pisando as flores que à sua passagem secavam e murchavam.
Desapareceu por completo e todas as flores tinham secado, murchado, desaparecido à sua passagem restando pequenos montículos de cinza fumegante onde antes elas tinham florescido sem aviso prévio.
Satisfeito o padre regressou à igreja e preparou-se para o que iria suceder a seguir. Em breve tudo iria recomeçar: O mesmo casamento, o mesmo noivo e o mesmo gato iriam fundir-se num só. A mesma chuva viria e os ratos iriam gritar e chiar ainda mais, por isso iria dormir. Resignado preparou-se para que o seu corpo, grande, branco, retomar novamente a forma inicial. Sem dar por isso foi-se escondendo dentro de si próprio e em breve era menino outra vez. Dormiu… Quando eles chegassem iriam acorda-lo e tudo se repetiria…
Diabo de vida!
Vitor Barros

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Obrigado, Obrigado...





A todos os que adquiriram o meu livro deixo o meu sincero obrigado. Espero que tenham gostado do mesmo.
Já tive oportunidade de receber alguns comentários sobre o mesmo. Todos gostaram do que leram e todos me deram uma opinião muito sentida sobre a maioria dos textos. Todos mesmo, todos sem excepção.
Ontem recebi pessoalmente o texto que abaixo transcrevo. Cheio de emoção e de afecto.
Fiquei feliz, ficámos felizes. Ficámos comovidos.
O que escreveste são pétalas que o teu coração perfumou.
Obrigado Epifania!


Pequena análise do teu livro”

“Vitor, foi com alegria misturada com tristeza, saudade e umas lágrimas a quererem sempre saltar dos olhos que iniciei a leitura do teu livro.
Já o título me comove. As palavras do Presidente, o prefácio da Isabel Maria também.
Quero absorver todas as palavras e ir até onde a sua magnífica imaginação e seu coração bondoso e humilde me levarem.
Como mãe da Dina não posso deixar de agradecer-lhe o nome dela neste livro, apesar de nunca a ter conhecido (julgo que não?) Olho à capa e numa rosa vejo logo o rosto dela.
Como é sentimental! E como me identifico em algumas coisas com o Vitor. Também tenho correntes presas ao passado. Adorei as frases “ Tenho a chave que abre mas nunca entro. Lá de dentro um cheiro intenso a flores, segue-me, persegue-me, chama-me e protege-me! Ao lado num pequeno poial em pedra costumo deixar as flores…para as flores! Para eles.”
Conheci tudo o que se refere na infância e adolescência sobre os trabalhos campestres e afazeres domésticos. Também fui sócia da Biblioteca Itinerante embora lesse menos número de obras. Como sempre adorei escrever, desde que me conheço que tenho alguma coisa escrita (mal escrita!) Recordo-me que já redigi algo sobre essa Biblioteca cinzenta que balançava quando estavam duas ou três pessoas no seu interior. E conheci bem os dois senhores, homens finos, cultos, um recordo que se chamava Camacho.
A escola Afonso III apenas a conheci na época de exames. Fui do tempo em que os alunos do Ciclo Preparatório (Antigo 2º ano) do Externato de S.Brás de Alportel faziam as provas finais lá. Até a Escola Técnica de Tavira o fazia.
O Liceu João de Deus também me teve como aluna, infelizmente só por um ano. A distância e a falta de meios de transporte fizeram-me desanimar e desistir. Atitude que deixou meu pai triste. Ele desejava ver a filha com mais estudos, bem empregada…como hoje o compreendo! E quanto se orgulharia na Dorinha que teve mais juízo do que a mãe!
Continuando, esse contacto com a natureza, com os cheiros, as cores, os sons, também os aprecio, sinto, recordo-os e trago-os sempre no sentido. Ó Vitor apetece-me dizer com toda a minha pequenez e humildade: Deus deu-nos uns olhos que alcançam mais longe. Que vêem, o que está escondido dentro das coisas e das pessoas. O que mais me encanta na sua escrita é a sua descrição e mesmo paixão por um passado que tal como eu, não conseguiu suster, agarrar. Há em si um saudosismo enorme! A história da sua família, dos seus antecedentes foi muito interessante. Também eu adoro ir para trás no tempo. Fi-lo pesquisando horas e horas, dias e dias durante meses quando tive todos os livros paroquiais existentes de 1865 a 1948. Passei para cadernos, os nascimentos, casamentos e óbitos embora abreviasse muita coisa.
Essa do Jornal do dia do nascimento da Cinara foi um interessante pensamento. E mais uma vez as lágrimas teimaram em sair mas evito molhar o livro que afinal é mais da Dorinha do que meu e ela ainda não o leu. Até porque a visão vai sendo fraca, apesar de pôr óculos, tenho-o um pouco distante. Molhar o seu livro com as minhas lágrimas não quero! Possivelmente por ser a primeira vez que leio uma obra em que conheço tão bem o autor, parte da história, e das personagens, fazem-me ficar mais atenta e comovida. Conheço a Fernanda desde menina de escola primária. Vi-a crescer, fazer-se mulher. À Cinara ainda melhor. Sempre a conheci. Ainda me lembro um Domingo de mercado, quando eles eram dentro da aldeia, a Fernanda tinha uma barriguinha de uns cinco seis meses e escolhia numa tenda, junto à casa de Nossa Sr.ª das Dores( onde põem a mesa das festas) uma bandelete de bebé com um lacinho. A rapariga dessa barraca (Ilda) já faleceu, eram de S.Brás e agora é o marido que vende. Costumavam ter bonitos acessórios para recém-nascidos. Eu tinha a Dorinha comigo, ela teria uns nove anos mas reparou e disse-me.
-Deve ser uma menina senão a mãe não comprava um lacinho para o cabelo.
Achei imensa piada por ela estar a reparar.
Depois chegou a pequena Cinara e a minha menina já louca por crianças pedia-me quase todos os dias para a ir ver, e brincar com a pequenina. Fê-lo durante muito tempo. Contava-me como ela se desenvolvia, como já queria escrever, como era inteligente e já conhecia as letras para aí aos 2 ou 3 anos. De longe mas perto, vi-a crescer por isso emociono-me e o raio das lágrimas vêm por tudo e por nada.
“Foi Deus” para mim, se desse pontuação esse texto teria a nota máxima.
“ No Natal eu vou chorar” também fez-me chorar. Infelizmente sei o que é perder um pai e o meu foi tão cedo. Tinha 21 e ele 46 anos quando sucedeu.
A minha alma entende a “tua” (sua seria melhor, tenho dificuldade, não sei se tratar o Vitor, por tu, se por você, como é mais novo teria sentido levá-lo por tu mas o convívio é pouco e dá-se este dilema) porque sente da mesma maneira. Fazemos parte de um mundo de pessoas diferentes que vêem tudo com o coração. E foi o texto “Sem pressa” que me fez pensar assim.
É lindo o poema à Fernanda! Que o vosso amor se mantenha sempre assim, tão vivo é o que desejo. Ela teve muita sorte por Deus ter-lhe oferecido um marido “tão especial”.
Achei muita piada no seu “Elas”. Não é assim tão tosco, nem seria necessário rebaixar-se tanto para enaltecer as mulheres. Ri um pouco! Também tem sentido de humor quando quer. E obrigada na parte que me toca pelo facto de ser mulher.
Quanta ternura Vitor! E que saudade nesses pequenos passarinhos com olhos feitos de sementes de alfarroba!!!
Estou a adorar o seu livro porque faz-me vibrar, sorrir, chorar. Tudo ao mesmo tempo! Tem sentimentos! Essa cruz na porta do forno, essas rezas tenho-as na ideia e no papel feito à minha maneira de sentir. Os meus mortos também me ajudam e do céu enviam-me o carinho que às vezes aqui me falta.
São Poemas! Não quase.
O provérbio filho de peixe sabe nadar adequa-se à Cinara. Puxou a linha do papá como a avó Salomé diz! E parabéns a ela. Quem aos treze anos escreve assim como escreverá aos 18,20,30,40…anos? Temos aqui uma poetiza! Quem sabe se daqui a anos não será famosa e o seu nome se destacará? Desejo tudo de bom para ela. Muito sucesso na escola e pela vida fora, mas principalmente que saiba sempre diferenciar o que está certo do que está errado e que se reja pelos princípios do bem. Achei admiração como o poder do amarelo tem tanta influência no Vitor. A tal bola amarela…
Conheci esses meninos quase todos dos “Meninos com Dedinhos de Pauzinhos de Giz”. Se não estou enganada e decorreram já tantos anos, a Ana Lúcia era irmã da Sara. Tinham grandes olhos negros e um ou outro sinal escuro no rosto (sardas) Nas férias trocava correspondência com elas. Telefonava-lhes. Contactava-mos todos os dias em tempos de escola. Elas almoçavam no refeitório com os meninos de longe: S.Romão, Corotelo, Vilarinhos.Os alunos de Santa Catarina também comiam lá do que trazíamos de casa. A professora Zézinha orientava os mais pequeninos. Aquecia-lhes a comida num pequeno fogão a álcool. Convivíamos todas, tornávamo-nos amigas. A Luísa, a Teodora, a Eleutéria. Todos esses nomes fizeram-me regressar a esses tempos. Da Marinel estava esquecida mas o nome foi suficiente para o cérebro enviar-me o rosto dela, com o cabelo claro aos caracóis e feições muito perfeitinhas. A Salomé (se for a mesma) parece-me que era Salomé Rosa; passou férias na minha casa uma semana quando eu tinha 16 e ela uns treze anos. Foi num verão por ocasião das Festas do Largo. Os pais vieram cá à festa e um irmão, o Fernando. Dela conheci a família quase toda. Uma prima mulher de um pirotécnico que mais tarde veio a falecer vítima dos foguetes. O irmão desta, o Rogério Contreiras (não sei se é da família do Vitor!) O mundo é pequeno! Todos somos conhecidos afinal.
Eu pessoalmente gosto mais de escrever sobre factos verídicos do que sobre ficção. Acho que não tenho grande imaginação. É engraçado como o cheiro pode trazer-nos lembranças! E pronto. Parabéns ao Vitor por ser tão sensível, presentear-nos com este livro que nos deu muito prazer a ler. Que bom seria que toda a gente fosse parecida consigo. A sua escrita tem energia, movimento, acção. Não é por acaso que escreve fluentemente e transmite tão bem os seus estados de alma.
Ambos temos as asas do nosso anjo a proteger-nos. O Pedro e a Dina. Eles lá gozarão uma Felicidade nunca inferior à que lhes seria dado gozarem aqui. Assim penso! No final todos estaremos unidos. Eles avançaram mais depressa. Todos lá chegaremos embora com menor qualidade e talvez com mais sofrimento.
Fico feliz por se reger pelos princípios que eu procuro seguir: Amor à família (viva ou morta), carinho pelas lembranças infantis, juvenis…contudo temos todos pés de barro, pecamos e somos imperfeitos.
Os livros ensinam-nos muitas coisas. O seu não é excepção. Continue a escrever porque tem muito valor. E claro que os “Meninos Nunca Morrem”. Há quase dezanove anos que grito essa mensagem para todos, por essas ou por outras palavras. Uns concordam comigo, outros coitados sinto pena deles.
Esqueci-me de falar no poema “Solidão” onde me identifico muito com o Vitor. Tantas vezes escrevi parecido; eu nada sou…eu nada faço…! Aquelas frases que chegam naqueles momentos em que estamos mais deprimidos, mais tristes.
Agora sim vou terminar. Peço desculpa porque eu “falo muito escrevendo, mais do que falando”.



Obrigado, Obrigado Epifânia
vitor barros