segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

XXIII-SOU FELIZ: Não tenho sonhos...

Sou Feliz! Não tenho sonhos.


O Toino, mesmo já muito velho, jogava pedras que salvavam o monte em frente e continuavam a subir para lá do horizonte. O Toino foi sempre feliz e, contou-me ele um dia: Sou feliz porque não tenho sonhos...Sabes, os sonhos tornam as pessoas infelizes.
O Toino trabalhava hoje e amanhã não. Porque não lhe apetecia, e era feliz fazendo o que lhe apetecia. O Toino nunca casou nem teve filhos. Nunca se levantou cedo quando lhe apetecia ficar dormindo, nem foi trabalhar quando lhe apetecia ficar embebedando-se na taberna. Fumava cigarros sem filtro e cheirava a aguardente de figo. Nunca sonhou em fumar cigarros com filtro nem em beber conhaques ou uísques.
O Toino vestia-se mal e por vezes andava quase descalço e com buracos nas peúgas.
O Toino nunca sonhou em ter um fato e sapatos de verniz enfeitados com meias coloridas. O Toino nunca teve dono, nem sonhos que o levassem para lá do horizonte.
O Toino era assim. Falava muito comigo e embebedava-me de palavras.
O Toino era meu amigo. Olhava-me de frente. O Toino hoje está no lar…Ao seu lado está o Sr. Antunes que foi uma pessoa muito importante. Teve vários filhos, muitas mulheres, fumou bons charutos e vestiu dos melhores fatos. Nunca faltou no escritório e nunca se embebedou.
Teve sempre muitos sonhos que nunca o deixaram ser feliz. Esteve sempre prisioneiro deles e nem sequer aprendeu a jogar pedras. Foi sempre dono de alguém mas nunca foi dono de si próprio. O Sr. Antunes não era meu amigo, olhava-me de lado…
Ninguém vai visitar o Sr. Antunes, nem os filhos nem as mulheres, nem os charutos…
O Toino continua feliz e sem sonhos. Fui vê-lo hoje porque ele é meu amigo. Continua a cheirar a tabaco e a aguardente de figo.
Riu, riu, riu!
Pedi-lhe para me ensinar a jogar pedras que salvassem o monte em frente e continuassem a subir para lá do horizonte…Disse-me logo que sim, mas que ao Antunes não!
O Sr. Antunes estava triste, reparei. O Sr. Antunes não se ria. O Sr. Antunes não sabia jogar pedras….Nunca soubera, nem quisera saber. Não era fino!
O Toino também reparou.
Ambos reparámos que das suas meias coloridas as lágrimas caíam formando um montinho que nunca jogaria pedras para lá do horizonte…


O Toino existe e estava no lar em S.Brás de Alportel há uns dias atrás. Quando passei por lá nas vésperas de Natal disseram-me que tinha ido para o hospital em Faro...! Não sei sei o irei ver mais alguma vez! fica a minha homenagem!!!!!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

XXII-Novamente as Palavras

Por vezes não sai nada. Uma solidão imensa embrenha-se no meu interior e seca-me. As palavras ficam murchas e vão secando e começando a cair pelas minhas paredes. Batem bruscas de encontro a elas e desfazem-se em silêncios de pó! O meu vento interior, agreste e áspero tenta varrê-las para longe da solidão que me assola. Pego nelas e arrumo-as num cantinho. Fazem um montinho, um pozinho que pouco a pouco se começa a elevar tentando sair do meu deserto interior.
Não quero secar e não posso secar. Tenho de dar vida às palavras. A inquietação começa a tomar conta de mim. As palavras quietas e adormecidas, montinhos quase de lixo e secas, prestes a desfazerem-se começam ganhar vida. Começam a ficar viçosas e a subir pelas minhas paredes. Começo a ficar nervoso, irrequieto e agitado. Mexo-me, remexo-me e torço-me para todos os lados. Pego então nelas e ficamos a sós. Nessa altura tudo deixa de existir, nada mais à minha volta faz sentido. O mundo em nosso redor como que acabou. Não vejo mais nada, nada mais oiço, não tenho sede, nem fome nem sono. Eu e as palavras. Eu a tratar delas a regá-las a alindá-las tentando fazer a mistura certa as proporções certas! Elas acariciando-me fazendo-me cócegas nos dedos, escorregando pelo gargalo da caneta, pela lisura do lápis e colorindo o branco triste da página. Finalmente sinto-me novamente vivo! A secura, a aridez e a solidão que varria o meu interior transformaram-se num riacho fresco e fértil. Nada mais existe, todo o mundo desapareceu. Só eu e elas, só elas e eu. E o silêncio. Em frente o azul do mar e no azul do céu o risco feito pelo grito das gaivotas. Misturo-me com elas, eu e as palavras, e sentamo-nos no risco que desenharam no ar. Balançamos as pernas de um lado para o outro como crianças felizes. Damos as mãos e começamos a rezar.
As gaivotas passam voando e sorriem para nós.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

XXI- O Tinir suave da tesoura!









O Sr. Joaquim Martins Guerreiro chamava-se Joquenito…
Era o meu barbeiro desde miúdo. Morreu há dias…
Parece-me que trinta e seis anos depois ainda continuo a ouvir o tinir suave da tesoura junto às orelhas!



Sítio do Corotelo, 28 de Maio de 1973

Eu já fui diversas vezes ao cabeleireiro. Fui cortar o cabelo quando ele já estava um pouco grande. Eu não chorei nem tive medo mas, no entanto, fazia-me impressão quando os cabelos se metiam através da gola da blusa e iam escorregando pelo pescoço fazendo comichão. Também me dava impressão o tinir suave da tesoura junto das minhas orelhas. Enquanto o Senhor Joaquim me ia cortando o cabelo eu ia conversando com ele sobre isto e sobre aquilo.
Enrolado no pescoço tinha uma enorme toalha branca onde, através do espelho, eu via as madeixas do meu cabelo preto caírem lentamente. Quando o Senhor Joaquim me acabou de cortar o cabelo, vi-me no espelho e achei que estava um pouco mais feio do que com o cabelo comprido. Depois, regressei a casa, um pouco contrariado por ter cortado o cabelo, mas contente por já estar despachado.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

XX- O CHEIRO

Quando nessa manhã acordou, mais cedo ainda do que habitualmente acontecia, cheirou-lhe logo….
Já o conhecia há mais de quarenta anos. De repente aparecia, sempre forte, intenso, meio ácido e agreste, uma mistura forte de amêndoas amargas com cinza e terra queimada, molhada…
Talvez por isso soube logo que aquele dia iria ser um dia muito mais do que quente, um dia em que o calor quase lhe queimaria a boca e secaria os lábios, um dia em que o cheiro o atormentaria, lhe provocaria náuseas, arrepios, um dia em que teria de pôr as galinhas à sombra e em que teria de regar a pequena e nova macieira que de repente lhe nascera no quintal. Esta nascera assim como que de repente, sem se dar conta de como nem porquê, sem ser semeada nem plantada. Uma manhã reparara melhor no castanho rugoso do chão e um pequeno tronco como que saído do nada sorrira-lhe com as suas folhas tenras parecendo que também elas vinham já impregnadas do cheiro…
Conhecia aquele cheiro desde pequeno, desde os tempos em que o avô o punha em cima da velha mula e atravessavam toda a aldeia, passando por dentro do velho cemitério onde o coveiro lhe vendia as galinhas. Pretas, sempre pretas e só pretas, carregando com elas o cheiro…Aí costumava apreciar as frondosas sombras derramadas sobre os lisos lajedos polidos contando-lhe o avô que a seiva dos seus antepassados as tinha ajudado a crescer e que parte daquela fresca sombra lhes pertencia.
Sempre fazendo-lhes companhia o fiel Fadista, um cão negro como a noite, trotando alegremente atrás deles. Bonito o Fadista, bom caçador, bom amigo e brincalhão e sempre pronto para uma boa briga, para uma boa corrida.
Conhecia o cheiro desde os tempos em que o avô, sentado debaixo da grande macieira, jogava pedacinhos de pão às galinhas que de tão habituadas que estavam a ele e ao cheiro, adormeciam poisadas nos seus ombros e pernas enquanto ele lhes recitava e cantava orações e canções desconhecidas. Enorme o avô, sempre o vira ali, e parece que sempre estivera ali nos quarenta anos anteriores, quieto, na sua cadeira, rodeado de galinhas pretas que alimentava desde que nasciam até que morriam. Soube depois que ao que se sabia nunca provou um único ovo que fosse, ou um só bocado de carne das suas galinhas negras, e que o seu único objectivo era vê-las crescerem, envelhecerem e morrerem, enterrando-as debaixo da cadeira onde se sentava, deixando-lhes sempre o bico de fora e que lhes continuava a empurrar pelo bico abaixo pequenos bocadinhos de pão, até muitos dias depois da sua morte.
Lembrava-se bem do cheiro, quando num dia quente como uma brasa encontraram o avô há quatro dias pendurado na velha macieira, desfigurado e sorrindo sem graça nenhuma, rodeado por meia dúzia de galinhas famintas e sedentas debicando-lhe os pés e rasgando-lhes as velhas meias cinzentas.
Chegou-lhe mais forte às narinas agora. Vinha não sabia de onde, talvez do monte em frente onde o calor iria fazer ferver as árvores recortadas no horizonte, talvez da casa em frente onde uma pequena janela entreaberta deixava antever uma pequena fresta de vida. O mais certo seria vir de dentro de si mesmo, do seu interior, onde o cheiro se poderia ter refugiado tentando fugir ao dia quente que o horizonte prometia.
Vestiu-se sem pressa, as calças velhas com o cinzento já gasto pelos dias, uma camisola branca de alças por baixo da camisa de quadrados azuis e as meias cinzentas e finas por causa do inchaço que o calor lhe estava a provocar nos pés.
Abriu a porta e o bafo quente do dia que se aproximava trouxe-lhe o cheiro mais forte ainda, moldando-lhe o sorriso amargo do dia.
O esconder do negrume da noite desembaciou-lhe a vista que lhe parecia estar a pregar partidas. Estava a vê-lo e a senti-lo, esse cheiro que o assombrava de tempos a tempos.
No seu quintal a macieira nascida do nada, crescera durante a noite tornando-se uma árvore adulta, e os seus troncos cruzando-se labirinticamente formavam centenas de forcas negras onde centenas de negras galinhas esperneavam freneticamente deixando cair dos seus bicos entreabertos pequenos pedacinhos de pão.
Sabia agora que nunca mais se iria livrar daquele cheiro, era o cheiro da morte que de vez em quando lhe recordava o seu destino.… Estava a puxá-lo, estava-lhe gravado no sangue. Avançou para a macieira, sentou-se na cadeira onde contava passar os próximos vinte anos e foi nessa altura que o ouviu:
No ramo mais alto, negro e imponente durante mais de vinte minutos cantou como nunca se ouvira um galo cantar, as mesmas canções e orações desconhecidas. Reparou que as galinhas mesmo mortas estremeciam e aconteceu-lhe o mesmo…Só que não estava morto ainda, pelo menos por enquanto, já que o cheiro ainda lhe chegava às narinas. Avançou lenta e calmamente de encontro ao destino, de encontro ao cheiro…
Ficou pendurado com o mesmo sorriso sem graça nenhuma!
Foi o avô quem, quatro dias depois o encontrou!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

XIX 25 DE ABRIL

25 de Abril

Venho desejar a todos que o cheiro da Liberdade de Abril continue sempre a perfumar o dia 25. De certeza que trinta e cinco anos atrás, muitos dos leitores deste blog viveram este dia em cheio, que o esperavam e o aguardavam! Eu, na altura era demasiado pequeno para perceber o que se estava a passar. No meio em que vivia, o obscurantismo e a longa noite fascista tudo ofuscara, tudo cegara e amedrontara. Ninguém sabia o que estava a acontecer, ninguém sabia que a revolução cheirando a cravos chegara à rua, que a Liberdade vencera a tirania.
Por isso hoje, continuo a deixar aqui os parabéns e o meu agradecimento a todos que de alguma forma com as suas ideias, com os seus protestos, com os seus pensamentos contribuíram para que este cheiro a Liberdade chegasse até nós. Deixo-vos também aqui o meu desejo e a minha esperança que as actuais gerações e as gerações vindouras consigam preservar e continuar a apreciar condignamente o que realmente significou
ABRIL.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

XVIII-ELA, O GATO, A MOLDURA….(III)

Fazia nesse dia nove meses e alguns dias que o gato não saía de casa.Não que estivesse preso simplesmente porque chegava à porta miava e voltava para trás. Nesse dia ainda a madrugada não fechara portas quando ele miou como nunca o ouvira fazer.
Acordou meio assustada, sobressaltada, sem saber porquê, achou que aquele iria ser um dia diferente.. Uma grande e redonda lua espreitava altiva no rendilhado azul-escuro do céu. Parecia-lhe hoje mais redonda e amarela do que nunca..Desde aquele dia em que se vestira de negro que andava cismando na vida. Levantava-se normalmente cedo, angustiada pela ausência do passado. Dava voltas e voltas pela casa arranjando tudo o que estava arranjado e fazendo tudo o que estava feito. Tirava o pó das molduras, na casa de banho a torneira voltara a pingar e na cozinha a torradeira tinha avariado.. num canto o bolor aparecia : verde, parecido com aqueles limos que a maré por vezes trazia agarrada à saudade.
As molduras na parede…..encanecidas, enrugadas, calejadas de cal e saudade..A gravatinha e o livro! O dia da primeira comunhão. Ele de fato, o casaquinho com as flores bordadas…!
Limpou-as novamente, cuidadosamente...com a alma escorrendo lágrimas.
Espreitou a rua, o céu o mar.. A lua desaparecera como que por milagre..e um alaranjado ténue anunciava que o sol iria talvez brilhar..
Roçou-se-lhe nas pernas, cabeceou-a com mais força, insistiu. Miou com força, mais força ainda. O gato! Que queria o gato..Estava diferente, olhava-a diferente. Nunca mais andara assim desde que voltara com eles na alma, nos olhos! Nove meses e alguns dias..
Abriu a porta e teve a certeza que aquele dia acordara diferente. Era o dia..!
O gato olhou-a sorrindo, remando com os olhos, e nove meses e alguns dias depois, ao abrir da porta, miando ao escurecer do esconder da lua e ao amanhecer do acordar do sol, saiu correndo, levando com ele os dois e remando..remando em direcção à lua. À lua...
Chegara a hora! Regou pela última vez as flores, encostou à parede caiada a cadeira com cuidado e saltou para a moldura. Aconchegou o casaquinho bordado e carinhosamente como um dia fizera, endireitou-lhe a gravata e ajeitou-lhe no braço o livrinho da primeira comunhão ….

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

XVII- ELA, ELE E O GATO...(II)

Cinquenta e três anos e três semanas depois de ter casado ainda não se considerava viúva. Nesse dia acordara cedo, muito cedo. Uma pontada nas costas e aquela irritante tosse fizera-a acordar. Espreitou por uma fresta da janela, e clareando o escuro, a redonda e cheia lua desenhava-se ao longe transpondo o horizonte.
Vestiu-se calmamente. O simples vestido cinzento de andar por casa, e deixou-se ficar em pantufas. Na casa de banho pareceu-lhe que a torneira já não pingava e num canto uma ligeira mancha pareceu-lhe bolor. O raio do bolor. Difícil de limpar …Impregnava tudo, as paredes, a roupa, quase que a alma!
Na sala a lareira ainda quente aquecia o frio que se tinha agarrado às paredes durante mais de cinquenta anos. Um resto de sopa ainda morna e com bom aspecto iria resolver-lhe o problema do almoço. Nas mesmas paredes as mesmas fotografias: O marido de fato e gravata (novo, bonito como o filho, sem bolor na alma) junto dela, (um casaquinho branco com umas flores bordadas) felizes ainda. O filho (bonito como o pai) com uma gravatinha e o livrinho de orações debaixo do braço no dia da primeira comunhão! O barco lindo (até breve) com o filho pequeno e lindo também junto dele,(Para ela ele fora sempre pequeno)
o gato! ao fundo a lua redonda, como que a esconder-se no horizonte da fotografia..
Na cozinha preparou o café. Continuava a chamar-lhe café apesar de ser leite e só um bochechinho de café.. hábitos antigos!!… Regou as flores e verificou que ainda estavam viçosas e cheiravam bem.
Foi então que começou o vento. Primeiro devagar, muito devagar, depois forte, forte, frio e quente ao mesmo tempo, estranho. Foi espreitar a rua, abriu ligeiramente a porta e nem sinal de vento. Fechou-a e quando se voltou, ele estava lá a olhá-la fixamente, suavemente, os olhos muito vivos e abertos.
Chamou-o carinhosamente como sempre fazia. Saltou-lhe para o colo feliz, olhando-a nos olhos, e foi então que ela teve a certeza: Nos seus olhos viu os dois, remavam, remavam, em direcção à lua.
Foi ao quarto e mudou de roupa. Vestiu o vestido preto e soube que cinquenta e três anos e três semanas depois tinha ficado viúva.


Continua no próximo texto.

sábado, 10 de janeiro de 2009

XVI-ELA, O GATO…(I)

No dia em que ia fazer cinquenta e três anos de casado, acordou, olhou a redonda lua e levantou-se ainda bastante cedo com o cheiro e o ruído do mar no coração.
Sorriu ao estremunhado gato, e mesmo por cima do pijama vestiu aquelas calças cinzentas que já tinha vestido ontem e anteontem. Enfiou aquele casaco castanho que no Natal lhe tinham oferecido. Ao lado um respirar suave e uma tosse envelhecida e rouca diziam-lhe que ela ainda dormia e que a constipação ou uma ligeira pneumonia continuava a morar ali.
O gato já mais acordado e felino roçou-lhe nas pernas. Sorriu olhando para dentro de si próprio e vendo a tristeza que a vida tinha deixado lá dentro. Uma torneira pingava ligeiramente, bolor num canto da casa-de-banho, velhas molduras com antigas gerações, a fotografia do filho encostado ao barco… com o gato! Ao fundo a redonda lua. Parecido com este o raio do gato! (os gatos pareciam-lhe todos iguais!) Lindo o barco! Pintado de riscas vermelhas com o nome benzido pelo padre e tudo: ATÉ BREVE (SE DEUS QUISER)
Na sala, na lareira, uma panela com um resto de sopa, sem fogo, sem chama pôs-lhe mais bolor na alma. Mais fotos, ele quando era novo, (agora acha que nunca foi novo) o filho bonito, parecido com a mãe, novo, ainda sem bolor na alma..O gato a querer aquecer a lareira.. convidando-o, chamando-o, torturando-o, envelhecendo-o.
Anos atrás acordara também com a redonda lua por cima dele e envelhecera de repente. Nesse dia, logo cedo, em que vira o filho vestir aquelas calças cinzentas e aquele casaco que a mãe lhe oferecera pelo Natal. (Nunca mais houve Natal) e que lhe respondera:
-Vou ver a Lua!
e chamando o gato, entrara no barco e remara, remara, remara…..em direcção à lua!
No dia em que ia fazer cinquenta e três anos de casada levantou-se tarde.. O frio, o reumático, o ter o tempo todo para não fazer nada..!
Na cozinha em cima da mesa flores e um bilhete: Até Breve….!
O gato também não estava lá!


(Continua no próximo texto)