terça-feira, 22 de setembro de 2009

XXI- O Tinir suave da tesoura!









O Sr. Joaquim Martins Guerreiro chamava-se Joquenito…
Era o meu barbeiro desde miúdo. Morreu há dias…
Parece-me que trinta e seis anos depois ainda continuo a ouvir o tinir suave da tesoura junto às orelhas!



Sítio do Corotelo, 28 de Maio de 1973

Eu já fui diversas vezes ao cabeleireiro. Fui cortar o cabelo quando ele já estava um pouco grande. Eu não chorei nem tive medo mas, no entanto, fazia-me impressão quando os cabelos se metiam através da gola da blusa e iam escorregando pelo pescoço fazendo comichão. Também me dava impressão o tinir suave da tesoura junto das minhas orelhas. Enquanto o Senhor Joaquim me ia cortando o cabelo eu ia conversando com ele sobre isto e sobre aquilo.
Enrolado no pescoço tinha uma enorme toalha branca onde, através do espelho, eu via as madeixas do meu cabelo preto caírem lentamente. Quando o Senhor Joaquim me acabou de cortar o cabelo, vi-me no espelho e achei que estava um pouco mais feio do que com o cabelo comprido. Depois, regressei a casa, um pouco contrariado por ter cortado o cabelo, mas contente por já estar despachado.