segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

II-MEMÓRIAS

E assim ia decorrendo a minha vida… Já rapariguita de treze anos ia ceifar com algumas mulheres mais velhas e com os homens, como o António Pinto o Manuel Mendes e o Chico Louro. O pior foi uma tarde quando estava a ceifar e comecei com uma grande dor de barriga… lá fui para detrás de um valado urinar e vi sangue e não sabia o que fazer nem dizer. Depois lembrei-me de uma conversa que tinha ouvido à minha irmã Maria José com umas raparigas da idade dela e pensei que era o que elas estavam a falar na altura. Mas no meio daquela serra eu não podia fazer nada e para lá me aguentei. Cheguei a casa e nada disse, mas durante a noite e no outro dia era mais e mais. Aqui, não me lembro bem se falei alguma coisa com a minha mana, eu só sei que arranjei um bocado de trapo e lá fui eu ceifar, para a Herdade das Ladeiras, outra vez. Quando íamos no caminho o desgraçado do trapo caiu e as mulheres que iam ao meu lado, a Maria Isabel e outras lá me empurraram para eu ficar atrás e para ali aconcheguei aquilo. Ela depois, assim que pode falar comigo sem os homens se aperceberem, lá me disse que segurasse o trapo com um pregador ou então o cozesse com um bocado de linha linha. Já foi uma boa lição e resolvi mais ou menos o meu problema. O pior era à noite quando voltava para me lavar com uma pinguinha de água no fundo de um cocharro de cortiça que tinha de dar para todas se lavarem e mais outra pinguinha às escondidas sem os pais saberem e lá ia eu debaixo da oliveira lavar o dito trapo e as cuecas para enxugarem durante a noite para no outro dia vestir outra vez. Só devia ter dois pares e era também para os pais não saberem pois era uma grande vergonha…...


(Memórias da minha mãe 1943/1944)

15 comentários:

Isamar disse...

Memórias da tua mãe que me deixam a pensar noutros tempos não tão distantes mas que pouco ou nada diferiam destes a que te referes. Memórias de uma mãe num tempo em que nada destas "coisas" eram faladas em casa. Já és senhora? Perguntavam as mais atrevidas. Coradas, respondíamos baixinho como se de algo de anormal se falasse. Ninguém podia tomar conhecimento de que a menstruação havia chegado. Só a mãe e as manas. Manas eram as mais velhas. E tudo se passou afinal há tão pouco tempo mas parece ter decorrido há mais de um século! E essa Maria Isabel, cujo nome tanto me diz, ajudou a rapariguita a ajeitar o trapo que devia ficar preso com um alfinete de ama.
Que histórias tão bonitas!Os aromas de que as impregnas trazem-me uma revoada de recordações.´Ah, esquecia-me de te dizer que gostei de todos os nomes que referiste. O Louro....o Pinto...o Mendes...
Deixo-te beijinhos

Isamar disse...

Comprarei R�stias de Sol. Ent�o, amigo, as visitas s�o t�o espor�dicas... Gostava que me visitasses mais. Escreves muito bem.
Ah, aquela quadra, comoveu-me. Conhe�o-a.

Mil beijinhosssss

Laura disse...

Ai que fico ruborizadinha..ehhhh além de falar no meu livrinho que anda agora a sair da casca, também falam do que é uma verdade nas mulheres e antigamente apenas sabíamos pelas amigas, a minha mãe disse qualquer coisa por alto, mas as cachopas quando se juntavam falavam de tudo e ainda bem,assim aceitei tudo naturalmente... e é verdade que desgraça quando tínhamos que lavara quilo tudo às escondidas e bendita a alma que inventou os pensos higiénicos..mas que coisa boa...A partir daí a história era outra...
Beijinho a ti que penso não conhecer ainda, mas quem sabe já conheço mesmo ehhhh. Ora vamos a ver com o tempo!..
Obrigada pelo livro, que lembrança linda, nem esperava. Ainda falta aprovar por mim pois a foto saiu estreita e já mandei para que fique em ordem e so depois haverá à venda nas livrarias, ainda demora! Já agora diz-me o que achaste, é o primeiro, e no segundo já estou a fazer melhor seleçcão e a ter mais cuidado com as falhas...é com os erros que se vai aprendendo...jinho, de novo...

Maré Viva disse...

Tempos difíceis, em que tudo era tabú, em que tinhamos vergonha de tudo, até de ser mulher...é bom que se recordem certos factos, para que todos saibam que nem sempre a vida foi fácil e natural, como é agora.
Foi bom vir aqui, apanhar uma réstea de sol, pois começo a tiritar de frio...
Um beijinho.

Maré Viva disse...

Tempos difíceis, em que tudo era tabú, em que tinhamos vergonha de tudo, até de ser mulher...é bom que se recordem certos factos, para que todos saibam que nem sempre a vida foi fácil e natural, como é agora.
Foi bom vir aqui, apanhar uma réstea de sol, pois começo a tiritar de frio...
Um beijinho.

Maria disse...

Será que posso responder-te da mesma forma? "Sempre a mesma qualidade!"
Voltarei ... para confirmar.
Beijinhos

Isamar disse...

Deixo-te um beijinho e desejo-te um Santo e Feliz Natal.
Um raminho de giestas...

Maria disse...

Passei para te desejar um bom Natal!Um abraço

Luís Galego disse...

que texto...a reler.

Isamar disse...

Um abraço apertado que nos ligue até ao próximo Natal. Mil beijinhos acompanhados de um cabaz de saúde, alegria, amizade, tolerância, pão na mesa....

***
Isabel

Flor de Tília disse...

É noite de magia
Assim nos habituaram
Aqueles que nos criaram
E nesta fantasia vivendo
Dia a dia fomos crescendo
E constatámos afinal
Que o sonho era irreal

Havia pobres meninos
Mendigos cheios de fome
Mulheres abandonadas
Homens na solidão
E acabou-se a ilusão

Esta noite vou p`ra rua
Olhar lá no alto a lua
Bem cheia por sinal
E aquilo que pedir
Vai ser universal

Falta ao mundo a Paz
Aumentou a solidão
E tanta falta faz
Neste mundo a União

Abraço fraterno

Maré Viva disse...

Obrigada, obrigada, obrigada, pelas palavras, pelos presentes, desejo-te as mesmas coisas, tal e qual...e deixo um beijo de Natal.

Isamar disse...

Um dia de Natal muito bom. Que o Menino Deus te presenteie com saúde, paz,amor, solidariedade, tolerância, amizade e...pão na mesa.

Mil beijinhos porque eu sou de beijinhos.

p.s. Para quando as III memórias?
Aguardo-as, com amizade.

lena disse...

a qualidade da tua escrita deixa-me sem palavras

memórias foi o que li, memórias verdadeiras de um passado que desconheço, ou melhor que não vivi.

fizeste-me recuar no tempo, ir até à minha infância, relembrar-me de passagens contadas pela minha avó que me enterneciam e muitas vezes me deixavam a lacrimejar

tempos muitos duros, onde ir à escola era um privilégio, pois havia uma casa para cuidar, irmãos mais novos para tratar e ainda a lida do campo

a minha avó materna era da Mêda, Beira Alta.

sentia ao meu lado enquanto te lia, senti saudade das suas mãos, senti a falta do seu abraço, como sou piegas a lágrima rola sem a conseguir conter

tu tens esta qualidade, na tua escrita, conseguires que me transponha para dentro das palavras, deixar-me caminhar sobre os teus belos e excelentes textos, e vivê-los

é um prazer ler-te

o meu abraço com a ternura da amizade

beijinhos para ti

lena

Isamar disse...

E o teu comentário Leninha, deixa-me as lágrimas a rolar.
Bom Natal , porque Natal será sempre que o homem quiser, Para o Vb e para ti, minha doce amiga.
Beijinhosssss